sábado, 30 de março de 2013

Resenha do livro: O jogo do anjo

Livro: O jogo do anjo
Autor: Carlos Ruiz Zafón
Editora: Suma de letras
Páginas: 410

(Contém spoilers. Recomendado somente à uem já leu.)

"Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita algumas moedas ou um elogio em troca de uma história. Nunca esquece a primeira vez em que sente o doce veneno da vaidade no sangue e começa a acreditar que, se conseguir disfarçar sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de garantir um teto sobre sua cabeça, um prato quente no final do dia e aquilo que mais deseja: seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente vai viver mais do que ele. Um escritor está condenado a recordar esse momento porque, a partir daí, ele está perdido e sua alma já tem um preço."

Algumas pessoas dizem por aí que O jogo do anjo foi decepcionante, mas na minha opinião foi maravilhoso! Sinceramente, não achei o final "sem pé e sem cabeça". Claro que deixou algumas perguntas no ar, mas creio que essa foi a intenção do Zafón, deixar que cada leitor tire suas próprias conclusões. As grandes dúvidas são sobre Andreas Corelli. Afinal, um anjo ou um demônio? Um anjo do mal? Quais suas origens? Eu cheguei a conclusão de que Corelli antes de se tornar isso, também já foi um escritor em desgraça assim como David e que agora David seria como ele.
"Você vai caminhar em meu lugar e sentir o que sinto" "Essa é minha benção e minha vingança".
Já na questão de Cristina, foi como um presente que ele deixou para David, aquela garotinha da fotografia, como se tudo já estivesse planejado a muito tempo, fosse parte do destino ser assim. Uma maldição.

Para mim, o grande desenrolar dessa história é quando David é atropelado pelo bonde e acaba por parar no depósito das águas, onde escuta de um homem estar em um purgatório. É ali que ele finalmente encontra Corelli pela primeira vez e não só por cartas. Ao meu ponto de vista, quanto mais próximo da morte David se encontrava, mais Corelli poderia se aproximar, afinal, era um anjo.
Logo após isso, David descobre o tumor no cérebro e ter poucos meses de vida. (Descobre isso ao visitar um médico, que quando ele conta sua história ao inspetor Grandes, ficamos sabendo que estava morto havia 12 anos) Quando visita o cemitério dos livros esquecidos, o livro que ele escolhe (ou que escolhe ele, pra ser mais exata) nada mais é que o livro de Diego Marlasca, outro amaldiçoado, com quem David acaba tendo seu destino cruzado.

David vende sua alma à Corelli ao aceitar sua proposta. Vende sua alma à 100 mil francos quando aceita escrever o tal livro, a tal religião. Afinal, como diz Sempere, "Os livros têm alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram, que viveram e sonharam com ele."
Ao entrar no jogo do anjo, ele não poderia mais sair, assim como Diego Marlasca também nunca conseguiu. Viveu com aquela maldição por não ter cumprido o trato.
Lá pelos capítulos finais, quando David conta toda a história ao Inspetor Grandes, que investiga cada detalhe, é quando Zafón põe em jogo a sanidade do David e deixa que cada um tire suas conclusões. Tudo levava a crer, que toda aquela história havia sido inventada por David em sua própria cabeça. (já que era um escritor, não seria de se estranhar) Seu médico que já estava morto à anos, a casa de Corelli que se encontrava abandonada, a conta no banco que não existia, e por aí vai... Um detalhe importante também, é que enquanto David fazia investigações sobre Marlasca, sempre esteve sozinho. Ao se encontrar com a viúva Marlasca, Roures, o advogado Valera e a própria Cristina... o que pode nos levar a acreditar , que na verdade ele é quem cometeu todos os crimes, inclusive os cortes em seu peito que poderiam ter sido feitos por ele mesmo. Vale lembrar que durante todo o livro, ninguém além David, viu Andreas Corelli.

Agora eis a minha opinião sobre isso.
Era óbvio que David não estava em seu juízo perfeito, à essa altura nem ele sabia mais o que era ou não real. Tudo se passou sim em sua mente -o que não significa que não tenha acontecido de verdade- O fato dos outros não enxergarem, é que eles não faziam parte do jogo. O jogo era entre David e Andreas Corelli. Pode ou não ter sido David a cometer os crimes. Lembrem-se que ele sempre dizia notar uma presença dentro dos locais em que ele estava e logo após as pessoas costumavam aparecer mortas, (viúva Marlasca e Valera) porém nós nunca víamos quem era, porque podia muito bem ser sua própria presença, ser algo que carregava com ele.
Mas de qualquer forma, para mim Corelli é o vilão, o anjo de dois lados. (o bom e ruim, que abençoa e amaldiçoa) David foi apenas mais um infeliz ao entrar no jogo do anjo, no qual ao final, ele se tornaria o anjo, carregaria para sempre sua benção e maldição. Um pobre infeliz à viver na cidade dos malditos.
Ps: Não poderia deixar de dizer que amei descobrir que Isabella viria a ser mãe de Daniel (personagem de A sombra do vento)

Zafón mais uma vez me emocionou e me surpreendeu em um de seus livros. Confesso que chorei ao final, porque me apeguei tanto ao David... rs Livro recomendado apenas para quem não gosta de finais óbvios.


8 comentários:

  1. Eu também amo esse livro, estou lendo ele de novo! Gostei da sua interpretação, eu entendi o livro da seguinte maneira: Corelli e o David eram a mesma pessoa. No começo pensei o mesmo que você, mas depois que li o prisioneiro do céu, comecei a pensar que eram a mesma pessoa.
    Lembra de quando o David sonha com os editores morrendo queimados? Pouco tempo depois de saber da morte deles? Acho que é nesse ponto que percebemos que David não está em são consciencia, ele não sonha, mas lembra do que fez. Também tem uma parte que dois caras tentam violentar a Isabella, e ele pega uma barra de ferro. A mãe da Isabella diz, no outro dia, quando ele vai no armazen, que uma pessoa espancou dois "trabalhadores" com uma barra de ferro, e o David tinha sangue no rosto....
    Adorei sua conclusão!

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  2. Terminei de ler esse livro e até agora estou pensando no final, acredita? Eu não consegui de jeito nenhum entender se foi realmente Diego Marlasca quem cometeu todos aqueles assassinatos e o porquê de ele ter pago aos policiais para perseguir Martín. E por que ele aprisionou Salvador por tanto tempo? Muito, muito confusa.
    Escrevi uma resenha no meu blog, caso queira ler:
    http://maquiadanalivraria.blogspot.com.br/2014/02/titulo-o-jogo-do-anjo-titulo-original.html
    Beijo!

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  3. Bom demais, é um livro de arrepiar!
    Acredito que Corelli é um anjo do diabo que entrou na mente do dois D.M... levando-os a cometerem os crimes...

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  4. Achei muito bom o livro li os três. Confuso mas muito bom.

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  5. Estou confusa em relação ao fim deste livro....não sei o que pensar! pois existe um abismo entre o jogo do anjo e o prisioneiro do céu. É este intermediário que esta faltando. No final do jogo do anjo, David está em uma praia e Corelli o encontra e leva Cristina (sonho ou realidade?) e no prissioneiro do céu, David está na prisão.
    Alguém pode me ajudar a compreender?

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    1. Temos que levar em conta que o livro é contado em primeira pessoa, logo, não podemos confiar cegamente no que está escrito ali. Como comentaram acima, é possível que o David não seja uma pessoa sã, o que o levou a cometer diversos crimes sem lembrar. Por esta razão, não podemos confiar que ele realmente termine do jeito que foi contado neste livro. Nada impede que essa cena da praia, que remete a foto que ele possuía da Cristina, seja também uma fantasia, e que ele esteja preso o tempo todo.

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  6. Terminei recentemente a leitura de O Jogo do Anjo. A princípio também achei que Corelli e David eram a mesma pessoa, além dos crimes que aparentemente David cometeu sem perceber, no final do livro tem uma parte em que o Grandes pergunta para ele sobre o broche de anjo, que ele usa desde que Grandes o conheceu.

    Mas após a leitura de O Jogo do Anjo, comecei a ler Luzes de Setembro (também do Zafón), e nesse livro o Corelli também aparece, mas como um personagem dentro de outra história, que rouba a alma (e depois a sombra) de um relojoeiro alemão.

    Então acho que Corelli é de fato um demônio, ou o próprio diabo, que anda pela terra fazendo acordos, contratos, etc. E talvez é muito mais que apenas um personagem. Pretendo essa semana começar a ler O Prisioneiro do Céu, quem sabe não apareça Corelli nele novamente. rsrsrs

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